Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
Repórter da Agência Brasil
São Paulo – Os reitores das três universidades paulistas estiveram na noite de ontem (13) na Assembleia Legislativa do estado (Alesp) para apresentar, em audiência pública, os projetos que estão sendo desenvolvidos nessas instituições para inclusão de alunos negros e de escolas públicas. Apesar de concordarem com a necessidade da adoção de ações afirmativas, estudantes, professores e representantes de movimentos sociais criticaram o formato do programa apresentado, com gritos de protesto e cartazes.
A partir de 2014, a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual
Paulista (Unesp) e a Universidade de Campinas (Unicamp) deverão adotar o
Programa de Inclusão com Mérito no Ensino Superior Público (Pimesp). A Faculdade
de Tecnologia do Estado (Fatec) e as faculdades de Medicina de Marília e de Rio
Preto também devem aderir ao programa.
O Pimesp prevê que, até 2016, 50% das matrículas em cada curso sejam
destinadas aos alunos que cursaram integralmente o ensino médio em escolas
públicas – 35% desse total devem ser pretos, pardos ou indígenas. Até 40% desses
estudantes devem ingressar a partir do Instituto Comunitário de Ensino Superior
(Ices), que vai oferecer cursos preparatórios com duração de dois anos. Esses
cursos garantem o diploma universitário e o ingresso automático nas
universidades públicas estaduais, desde que o aluno tenha aproveitamento mínimo
de 70%.
Atualmente apenas 7% dos alunos da USP são pretos, pardos ou índios e
egressos de escolas públicas. Na Unesp, o índice é 10% e na Unicamp, 9%. Na
Faculdade de Medicina de Marília não há nenhum estudante que preencha os dois
requisitos simultaneamente.
O reitor da Unesp, Julio Cezar Durigan, ressaltou a disposição da instituição
em promover a inclusão dos alunos negros e de escolas públicas. “A Unesp é
favorável à inclusão e propostas estão sendo feitas. A que foi apresentada hoje
foi discutida entre os três reitores”, disse, após apresentar as ações que já
são desenvolvidas pela Unesp, como curso pré-vestibular gratuito que atende a 5
mil alunos por ano.
O pró-reitor de Extensão da Unicamp, João Frederico da Costa , também
destacou seis projetos que já são desenvolvidos pela instituição. Entre eles
está o Programa de Formação Interdisciplinar Superior (Profis), curso
interdisciplinar voltado aos estudantes que cursaram o ensino médio em escolas
públicas de Campinas. Os alunos do curso recebem bolsas de R$ 400. O Pimesp
prevê auxílio de meio salário mínimo.
A partir da adesão ao Pimesp, a instituição deverá, segundo Costa, unir todos
os programas para atender às metas de inclusão de alunos egressos de escolas
públicas e negros. “A Unicamp está, como as outras universidades, preparando-se
para estudar uma forma de combinar todos esses programas de maneira a garantir a
meta em 2016”, disse.
Representante do movimento negro, o professor de direito Sílvio Almeida
criticou a forma como a proposta foi apresentada. Para ele, faltou discussão com
a sociedade e dentro das próprias instituições de ensino. “É uma proposta que
nasceu da cabeça dos reitores, o que não significa necessariamente que nasce das
universidades, porque a universidade tem uma comunidade acadêmica.”
A pró-reitora de Graduação da USP, Telma Zorn, rebateu as críticas e disse
que o Pimesp pode sofrer modificações antes de passar pela aprovação dos
conselhos universitários. “Não há proposta fechada, os programas sempre evoluem.
É assim que acontece: a ideia surge de um grupo, um número maior de pessoas pode
contribuir e deve contribuir para consolidar aquilo que foi discutido”,
disse.
Sílvio Almeida também criticou o Ices, que oferecerá parte dos cursos a
distância. Na opinião do professor, o currículo não oferece uma formação que
garanta a inserção no mercado de trabalho. “[O sistema] cria uma discriminação
negativa, que a Constituição não permite”, protestou.
Representante do Diretório Central de Estudantes da USP, Pedro Serrano também
criticou o sistema proposto pelo Ices. “Por que criar uma antessala para o
estudante da escola pública?”, questionou Serrano lembrando que, com a
implantação do instituto, grande parte dos cotistas deverá passar dois anos
cursando disciplinas preparatórias antes de ingressarem nos cursos tradicionais.
Ele pediu que qualquer deliberação sobre o programa seja suspensa até que se
faça um debate amplo com a sociedade.
Edição: Lílian Beraldo
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