Thomas Pappon
Enviado especial da BBC Brasil a Roma
Scherer tem idade e vigor, mas suas opiniões são pouco conhecidas pelos demais cardeais
Em praticamente todas as listas divulgadas pela imprensa especializada
com prováveis favoritos para ser escolhido o 266º papa da história está o
gaúcho dom Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo.
Para muitos, nunca um brasileiro esteve tão perto
de se tornar papa. Já houve momentos na história recente da Igreja em que um
bispo brasileiro foi apontado como mais provável sucessor do papa, como no caso
do arcebispo de Salvador dom Lucas Moreira Neves, um dos grandes
"papáveis" durante toda a década de 90.
Próximo de João Paulo 2º, dom Lucas, que foi
prefeito da poderosa Congregação dos Bispos, parecia reunir todas as qualidades
necessárias para o trono de São Pedro.
Suas chances nunca puderam ser testadas, porque ele
morreu de complicações de diabetes em 2002, três anos antes do conclave que
escolheu Bento 16.
Scherer parece ser um candidato da hora certa no
lugar certo, por reunir uma série de qualidades importantes neste particular
momento que a Igreja vive. Mas quais seriam estas qualidades? E quais seriam as
desvantagens de Scherer na corrida papal?
Veja abaixo cinco prós e cinco contras a
candidatura do brasileiro:
A favor
1. Idade e vigor. Scherer tem "apenas" 63 anos. Já houve
papas bem mais novos ao longo da história. Três deles tiveram menos de 25 anos
- o último, Gregório 5º, tinha 24 anos quando foi eleito em 996 -, mas, desde a
Era Moderna, uma grande experiência de vida e trabalho tem sido um
pré-requisito nos conclaves. Joseph Ratzinger tinha 78 anos quando foi eleito e
se tornou Bento 16. Pelo menos fisicamente, Scherer demonstra ter a saúde e o
vigor necessários para enfrentar os desafios do cargo.
2. Bom conhecimento da Cúria, a máquina
administrativa do Vaticano. De 1994 a 2001 ele serviu na Congregação dos Bispos em Roma e saberia,
portanto, da necessidade de modernizar o órgão executivo da Santa Sé e torná-lo
menos suscetível à corrupção e a abusos financeiros.
3. Nome "limpo" no escândalo de abusos
sexuais que sacudiu a Igreja. O nome de Scherer não figura em uma lista,
divulgada há duas semanas, por uma associação de vítimas de abusos sexuais
cometidos por padres, com nomes de cardeais que teriam acobertado casos de abusos
ou tentado proteger acusados. Vários papáveis estão na lista.
4. Sintonia com novas formas de comunicação. Scherer tem conta no Twitter e
tem demonstrado saber fazer uso da mídia social. Um dos desafios do novo papa
vai ser tentar reverter a tendência de perda de fiéis para outras igrejas, e
uma desenvoltura e empenho na busca por novas formas de comunicação pode
ajudar.
5. Candidato da América Latina. Esse fato por si só, de
representar a região que concentra maior número de católicos no mundo, já pesa.
E sua escolha passaria uma imagem de busca por renovação. Vaticanistas apontam
ainda para as raízes alemãs de Scherer como uma possível vantagem, para
torná-lo mais aceitável como um candidato do "novo", mas com um pé no
"velho".
Contra
1. Pouco conhecido pelos cardeais. Vaticanistas dizem que os
cardeais sabem pouco sobre o que Scherer pensa ou suas intenções. Em se
tratando de uma escolha para um cargo vitalício, a falta de conhecimento sobre
um candidato pode pesar muito. Pelos relatos da imprensa, sua participação nas
reuniões pré-conclave foram opacas.
2. Candidato da América Latina. Para alguns cardeais, isso pode
ser visto como vantagem, mas para outros pode ter o efeito contrário. A Igreja
é conservadora, e os cardeais sempre preferiram um europeu. Mesmo um candidato
americano ou canadense seria "novidade". Muitos podem achar que ainda
é cedo para um latino-americano - afinal, foi dessa região que veio a Teologia
da Libertação, que gerou desconforto entre membros do clero.
3. Centrismo e falta de arrojo. O portal católico Riposte
Catholique faz essa crítica a Scherer, responsabilizando-o pela falta de
sucesso, à frente da arquidiocese de São Paulo, em encontrar novos meios de
tentar tornar a igreja mais atraente a fiéis. As críticas de Scherer aos
sermões-espetáculo do padre Marcelo Rossi também não ajudaram. Os cardeais
podem seguir a lógica e impor o questionamento – se Scherer não conseguiu
empolgar na maior diocese do país com o maior número de católicos do mundo,
conseguiria empolgar no comando da Igreja?
4. Visto como candidato dos antirreformistas. Os cardeais sabem que Scherer é
candidato preferido de cardeais italianos que eram fortemente ligados ao papa
João Paulo 2º e que teriam perdido influência sob o papado de Bento 16. "A
candidatura do cardeal Scherer pode sinalizar, para fora, uma renovação"
diz a revista online alemã Katholisches, "mas que visa, pelo menos
para algumas constelações do poder, deixar tudo como está ou mesmo tudo como
era antes".
5. Falta de carisma. Scherer não tem o estilo de
missionário carismático de João Paulo 2º ou de seu colega latino-americano, o
cardeal hondurenho Óscar Rodríguez Maradiaga. Nesse ponto, ele parece ser mais
alemão do que brasileiro - o que não impediu Ratzinger de virar papa.
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